Contra a Infantilização: pelo amadurecimento do gosto

"Uma crítica à infantilização do paladar e da vida — e um convite à maturidade sensorial num mundo que anseia por validação."

Publicado em: 28/07/2025 às 10:22

Contra a Infantilização: pelo amadurecimento do gosto

Vivemos tempos estranhos.
Palavras como acolhimento, empatia e pertencimento se tornaram ubíquas — repetidas em tom suave, quase terapêutico, como se fossem respostas universais para qualquer angústia moderna.

Sim, há valor nessas ideias.
O problema não está nelas em si, mas na forma anestesiante como vêm sendo usadas.
Tudo precisa ser acolhedor. Tudo precisa ser seguro. Tudo precisa ser fácil de digerir.

E o resultado disso não é uma sociedade mais madura — mas mais infantilizada.

Queremos ser ouvidos, mas não contrariados.
Queremos ser únicos, mas nos comportamos como rebanhos.
Queremos liberdade, mas buscamos aceitação acima de tudo.

Essa infantilização não acontece só nas redes, na cultura ou na política.
Ela chega à taça.

No mundo do vinho, isso se traduz em sabores cada vez mais fáceis, doces, previsíveis.
Em experiências pasteurizadas, “divertidas”, “instagramáveis”.
Em rótulos que vendem autoestima líquida, pertencimento e validação.
Tudo feito para não gerar atrito, nem exigência, nem reflexão.

Mas será que isso é maturidade sensorial?
Ou apenas uma nova forma de oferecer açúcar a adultos carentes de significado?


A carência por pertencimento

Como dizia René Girard, “não desejamos diretamente: desejamos segundo o desejo do outro”.
E numa sociedade conectada por algoritmos, isso se torna ainda mais perigoso.

Não é preciso dizer o que consumir.
Basta mostrar o que os outros consomem.

Você vê, repete.
Você deseja, sem saber por quê.
Você escolhe… achando que escolheu.

E o vinho, que poderia ser um portal para o autoconhecimento sensorial, vira mais uma ferramenta de mimetismo social.


A armadilha da comunidade

A palavra “comunidade” virou símbolo máximo da nova linguagem de marketing.
Mas o que era para ser espaço de liberdade se tornou um ecossistema de validação mútua e silêncio disfarçado de acolhimento.

Você gosta do que a sua bolha gosta.
Bebe o que seu grupo indica.
Evita dizer que não gosta — para não parecer que “não entendeu”.

Discordar virou pecado. Questionar, um risco.

No fundo, estamos criando espaços cada vez mais parecidos com um jardim de infância emocional.
E não há amadurecimento onde não há atrito.


Do frágil ao antifrágil

Enquanto muitos buscam segurança emocional e doçura em tudo — inclusive no paladar —, talvez a liberdade esteja justamente no contrário.

Nassim Taleb chama de antifrágil aquilo que não apenas resiste ao caos, mas cresce com ele.

Ser antifrágil no vinho é:

  • não temer a adstringência;

  • não fugir da acidez;

  • não exigir uma história emocionante em cada garrafa.

É aceitar a honestidade do sabor.
É amadurecer o gosto — como quem amadurece o caráter.


A autonomia é um ato de rebeldia

Na Angheben, não queremos vender experiências emocionais embaladas em marketing suave.
Não queremos te dar um lugar em nenhuma tribo.
Queremos — talvez — te provocar.

Queremos despertar em você o desejo de sentir com fidelidade.
De se reconectar com o seu paladar real, e não com o que esperam que você sinta.

E sim:
Isso pode doer.
Isso pode frustrar.
Mas é o preço da autonomia verdadeira.

Nossos vinhos não são para todos.
São para quem questiona. Para quem prova e volta atrás.
Para quem não busca consolo na taça — mas lucidez.

Porque vinho, para nós, não é um afago.
É um espelho.

E há liberdade quando você é fiel ao que sente.
Mesmo que isso vá contra o gosto da maioria.

Angheben. Um ato de inteligência. Um gesto de liberdade.

Com apreço, 

Equipe Angheben